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G-12: NOVA REVELAÇÃO OU VELHAS HERESIAS?

  • Junior Araujo
  • 5 de fev. de 2016
  • 10 min de leitura

Este artigo reúne as minhas reflexões sobre o tema à luz do meu conhecimento - teologicamente falando. Não pretendo aqui ferir ninguém e nem menosprezar o direito e a liberdade que cada indivíduo goza no que diz respeito à sua consciência e à manifestação de sua fé. Até porque tal procedimento, além de ser deselegante, feriria o que está assegurado pela Constituição Brasileira que em seu artigo 6º declara: É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as liturgias. [Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, Senado Federal, 1988, p. 5]

Creio ser desnecessário lembrar que esse artigo encontra eco em um de nossos princípios teológicos: o da liberdade religiosa e de consciência do indivíduo. A esse, podemos acrescentar o princípio da reunião dos cristãos como comunidade local, democrática e autônoma, porque nós, estudantes da Bíblia, sempre legitimamos as decisões tomadas por qualquer igreja em suas assembléias legais.

Referi-me a esses princípios nesta introdução para expor a minha preocupação e o meu cuidado nos meus comentários sobre o Movimento G-12, porque sei que há casos de pastores e igrejas de que aderiram – no linguajar do G-12 – à “visão” de células e há muitos irmãos que se congregam em uma destas igrejas.

Pretendo apenas, com as minhas reflexões, fazer um apelo à razão através do apontamento das implicações desse movimento na teologia prática.

Para apresentar um trabalho mais aprofundado sobre o G-12, creio que o pesquisador mais capacitado para essa tarefa é o pastor Paulo Romeiro [cf. ROMEIRO, Paulo. G-12: igrejas em células. São Paulo: AGIR, 2000.] o qual é doutor em Ciências da Religião e um dos maiores apologistas cristão da atualidade. Por isso, não investirei tempo na explanação dos detalhes do G-12, até porque ao longo destes últimos anos, esse movimento tem sofrido alterações na forma e na ideologia. Reconheço que ainda há muita desinformação, boatos e distorções sobre o G-12. No entanto, há também muitos dados bem conhecidos e documentados sobre esse movimento.

Procurei, então, firmar minhas reflexões e considerações finais sobre aquilo que a maioria das minhas fontes de pesquisa concorda. Também busquei não valorizar as histórias não comprovadas que vieram ao meu conhecimento durante a minha pesquisa sobre o assunto.

Assim, este trabalho consiste principalmente da exposição resumida e comentada das principais características do G-12 e de algumas conclusões que tirei de algumas pesquisas e estudos. I- O QUE É O G-12?

O G-12 é um “novo” movimento que se introduziu inicialmente no seio do neopentecostalismo, com o propósito de provocar o crescimento das igrejas evangélicas através de pequenos grupos conhecidos como células. Essas células atuam em reuniões nas casas dos fiéis e geralmente são compostas por doze pessoas. O número doze refere-se ao modelo do discipulado de Jesus Cristo, que separou para si doze homens para instrução, capacitação e testemunho das Boas Novas. O G-12 nasceu de uma visão do pastor César Castellanos Dominguez, pastor-fundador da “Missão Carismática Internacional” da Colômbia. Castellanos afirma ter recebido essa “nova e direta” revelação de Deus a respeito da Igreja cristã do novo milênio, no ano de 1991. Segundo esse pastor, o G-12 é o novo e último modelo de crescimento para a Igreja. Castellanos afirma que: “… o princípio dos doze é um revolucionário modelo de liderança que consiste em que a cabeça de um ministério seleciona doze pessoas para reproduzir seu caráter e autoridade neles para desenvolver a visão da igreja, facilitando assim a multiplicação; essas doze pessoas selecionam a outras doze, e estas a outras doze, para fazer com elas o mesmo que o líder fez em suas vidas”. [cf. CASTELLANOS, César. Liderazgo de êxito a través de los 12. Bogotá: Ed. Vilit, 1999, p. 148 apud SALGADO, Josué Mello. Dessacralizando a “visão”: uma abordagem crítica e desmistificadora do movimento “G-!2”. Brasília: [se], [sd], p. 1.]

O modelo dos 12 funciona como um processo de crescimento espiritual e ministerial, que é chamado de “Escada do Sucesso”. Ele compreende quatro degraus ou etapas: Envio Treinamento Consolidação Evangelização A Evangelização ocorre nas células. O número base é de 12 participantes por célula. Quando a célula alcança o número de 24 pessoas em suas reuniões, ela precisa se subdividir para manter o número 12. A célula é responsável pelo ensino e formação dos discípulos. Os cultos no templo da igreja se transformam em celebrações. A Consolidação é a etapa da confirmação da fé do indivíduo. Isso ocorre nos encontros. Lá, o novo convertido passa pela libertação e quebra de maldições. Nesses encontros, a pessoa também é doutrinada na visão dos 12. São três tipos de encontros: o pré-encontro, o encontro e o pós-encontro. Os líderes de células são formados nesses encontros. O Treinamento é oferecido pela escola de líderes de cada igreja. Os novos discipuladores são capacitados para dirigir as células e difundir a visão dos 12. Cada seguidor do G-12 tem uma meta de 144 discípulos. O Envio é a etapa final, quando os novos líderes assumem a liderança de grupos em células, com a missão de preparar outros discipuladores. Além dos encontros, vários eventos também são realizados para promover o G-12. Por exemplo, em Junho de 2000, em Sumaré, no interior de São Paulo, foi realizado o “I Congresso Nacional do G-12” com mais de mil participantes. Esse congresso foi organizado pela Igreja do Evangelho Quadrangular, “a primeira grande denominação brasileira a aderir oficialmente ao movimento”. [cf. FERNANDES, Carlos. G-12: revolução ou heresia? Eclésia.Ano V, no. 57, p. 19.] Essa denominação neopentecostal possui 1,3 milhão de fiéis e está entre as cinco maiores igrejas evangélicas do Brasil, segundo a revista Superinteressante. [cf. GWERCMAN, Sérgio. Evangélicos. Superinteressante.Edição 197, p. 61] A “II Convenção Anual no Brasil de Igrejas em Células no Modelo dos 12” aconteceu no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, entre os dias 29 de junho e 2 de julho de 2000 e contou com mais de nove mil participantes. Nos dias 6 a 9 de julho de 2000 foi realizado o “I Congresso de Crescimento da Igreja na Visão Celular” em Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro. O preletor foi o pastor René Terra Nova, de Manaus – AM, “… pastor que tem influenciado a igreja evangélica brasileira com divulgação da visão da Igreja Celular no Modelo dos 12”. [cf. MACHADO, Rubem. Folha Mundial. Ano I, no. 3, p. 2.] Esses eventos provam o quanto tem crescido o movimento em solo brasileiro.

O G-12 ampara suas práticas em ênfases teológicas que combinam liderança carismática, fundamentalismo cristão, doutrinas neopentecostais, manipulações psicológicas e misticismo. Essa abrangência facilita a cooptação de novos adeptos, a maioria proveniente de outras igrejas cristãs.

Além disso, O G-12 é um movimento que não propõe a filiação de seus participantes à igreja realizadora do evento. É possível ser um dos doze de algum discipulador e permanecer membro de uma igreja histórica que não tenha se enquadrado no modelo, por exemplo. Dessa forma, o movimento, através de seus Encontros, tem uma penetração mais eficiente no seio das igrejas, e permite aos líderes da região exercer controle sobre membros de outras igrejas sem que eles se desvinculem das mesmas [cf. BATISTA, Jôer Corrêa. Movimento G-12: uma nova reforma ou uma velha heresia? Fides Reformata 5/1 (2000). . 01.03.2004].

Se for assim, podemos entender como a visão dos 12 consegue encontrar, sutilmente, lugar em meio às nossas fileiras. Segundo Paulo Romeiro, o G-12 tem em Kenneth Hagin, um expoente da Teologia da Prosperidade, e em Peter Wagner, um “especialista” em guerra espiritual, os seus referenciais teológicos principais. Kenneth Hagin é também o referencial de R. R. Soares, cujos programas televisivos têm alcançado de maneira impressionante a atenção do povo evangélico. Os ensinos de Soares encontram eco no movimento G- 12.

Podemos dizer que este este um movimento interdenominacional, não é uma igreja específica, nem uma seita ou religião, é uma mistura entre um metódo de evangelismo e várias doutrinas heréticas, além de práticas e manifestações sem nenhum respaldo bíblico. O movimento chamado de "G-12" ou "Igreja no modelo dos doze", ou ainda, "Igreja em células", não passa na verdade de uma grande "panela", onde encontramos de uma só vez, reunidos e bem misturados, uma série de "ingredientes" (doutrinas e práticas) venenosas a vida cristã (2Re 4.39-41). Urge que façamos uso da "farinha" da sã doutrina para evitarmos que muitos sejam enganados (2Tm 4.1,2; Tt 1.9).

O método e o conjunto de "doutrinas":

É preciso diferenciar o método utilizado pelo movimento G-12, que não traz maiores complicações, do conjunto de doutrinas e práticas heréticas esposadas pelo movimento.

O método de evangelismo e discipulado não tem em si mesmo nada de condenatório, sendo na verdade, utilizado por várias igrejas, inclusive as Assembleias de Deus, recebendo outros nomes como: grupos familiares, núcleos de evangelismo, reuniões nos lares, grupos de estudo, etc., sem limitações de números de participantes em cada grupo. Todavia, para o movimento G-12, este método se reveste de um significado espiritual, oriundo da revelação que teve o Pr. César Castellanos, o número de "12" integrantes seria uma estratégia ensinada por Jesus ao escolher a quantidade dos seus apóstolos.

No entanto, em seu ministério, Jesus não se deteve a nenhuma estratégia numérica de evangelismo em torno do número 12 ou de qualquer outro (Lc 9.59,60; 10.1).

O grande problema deste movimento reside numa "miscelânea" de heresias e práticas nada bíblicas ou ortodoxas, que nos deteremos mais adiante.

Principais defensores:

* César Castellanos Dominguez — É considerado o mentor do movimento, que surgiu em Bogotá, capital da Colômbia. Diz ter recebido uma revelação divina em 1991 sobre a importância da "igreja em células no modelo dos 12".

* René Terra Nova — Conheceu a "visão" em Bogotá, em seguida saiu da Igreja Batista de Manaus-AM e fundou o "Ministério Internacional da Restauração", tornando-se um dos principais

representantes da Visão Celular no Modelo dos 12.

* Valnice Milhomens — Pertenceu a Igreja Batista de São Paulo/SP, também foi à Bogotá conhecer a "visão", onde foi ungida pelo próprio Castellanos, hoje é a pastora da "Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo", tele-evangelista muito conhecida no meio evangélico, é adepta e uma das principais defensoras da Teologia da Prosperidade.

* Mário de Oliveira — Presidente nacional da Igreja do Evangelho Quadrangular-IEQ, enviou representantes à Bogotá e aderiu juntamente com sua igreja a "visão dos 12", realizando o 1º Congresso Nacional do G-12, Em Sumaré/SP, com cerca de mil participantes [Junho de 2000].

II- ALGUNS PROBLEMAS DOUTRINÁRIOS DO G-12:

1) EXPERIÊNCIAS ACIMA DAS ESCRITURAS

° É errado valorizar as experiências acima das Escrituras [Gl 1.7,8];

° As Escrituras estão acima de qualquer experiência [2Pe 1.15-21];

° As experiências precisam ter o apoio das Escrituras [At 2.12-21 e Jl 2.28-32; 1Co 14.21,22 e Is 28.11; At 11.15-18; Is 8.19,20].

Interpretação errada: Alguns dizem "As operações do Espírito não estão limitadas à Bíblia, Deus faz como quer, aonde quer e com quem quer, pois a letra mata, o Espírito vivifica". Ora, veja de qual "letra" que 2Co 3.6b está falando, vss 7,8 e ainda. Rm 7.5-11 e Rm 15.4; Tm 3.16,17.

Mais uma interpretação errada: "Vale tudo na presença do Senhor, pois onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade", 2 Co 3.17. Veja de qual liberdade o texto está falando, vss. 6-11,14-16 e 1Co 14.31-33.

Outra má interpretação: "Não tente entender, apenas receba". 1Co 2.14a, veja os vss. 14b,15; "Quem não entende as coisas do Espírito de Deus é o homem natural, o espiritual tem que entender." 1Pe 1.13; 1Co 14.6-13.

2) TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

Também conhecida como "Evangelho da riqueza e da saúde", identificação que expressa bem a tônica doutrinária deste pensamento, a teologia da prosperidade tem três pressupostos principais:

1º- O crente não sofre, o sofrimento na vida presente é excluído da vida cristã mediante o "tomar posse dos seus direitos", isto significa, "decretar a vitória" (Dt 28.13; Js 1.3; Fp 4.13).

✓ Refutação:

Além de estas referências estarem isoladas de seus contextos, o que dizer do convite de Paulo a Timóteo e de seu próprio testemunho? (2Tm 2.3,9), não vemos o apóstolo com este tipo de ensino (2Co 4.16-18), nem muito menos Jesus (Jo 16.33).

2º- O crente não pode ser pobre, a pobreza é encarada como um demônio, uma maldição, e uma das características do verdadeiro cristão é a prosperidade fincanceira (Ef 1.3).

✓ Refutação:

A Bíblia não nos incentiva a buscar nem a riqueza nem a pobreza, mas apresenta uma ideia equilibrada (Pv 30.7-9), repreende aos ricos (Mt 19.24; Tg 5.1-6) e adverte quanto ao perigo da busca de riquezas (1Tm 6.3-11).

3º- O crente não adoece, a enfermidade não faz parte da vida do verdadeiro cristão, a não ser que este esteja em pecado ou sem fé. Citam Is 53.4, como a base bíblica deste ensino.

✓ Refutação:

Além desta citação (Is 53.4) ser um equívoco (Mt 8.17; Is 53.12; 1Pe 2.24), a Bíblia é bem clara ao mostrar que a redenção do nosso corpo é um benefício da salvação ainda futuro (Rm 8.22-25; 1Co 15.40,42-44; 52-55), por isso, muitos servos de Deus adoeceram na história bíblica e continuam a adoecer hoje (Gl 4.13-15; Fp 2.25-27; 1Tm 5.23; 2Tm 4.20; Tg 5.14; 2Co 4.16-18).

3) CONFISSÃO POSITIVA

A Confissão Positiva é uma heresia indissociável da Teologia da Prosperidade, resume-se na máxima já bastante conhecida no meio evangélico: "Há poder em suas palavras!". O ensino consiste em dar um significado mágico as nossas palavras, de forma que, se eu digo (confesso) a coisa certa, tudo dará certo, porém, se eu digo algo negativo, isto me trará problemas (Pv 6.2).

Portanto, pratica um novo modelo de oração, onde não se pede, determina-se, decreta-se (Sl 17.1), condenando a perseverança em oração por algo, como sendo falta de fé.

✓ Refutação:

O contexto anterior de Pv 6.2 mostra claramente que o versículo 1, foi desprezado propositadamente, quem fica preso com as palavras é aquele que compromete-se como fiador, não significando absolutamente que haja um poder mágico em nossas palavras. Este ensino vai totalmente de encontro ao que Jesus ensinou (Mt 6.10; 26.39,42) e os apóstolos também (At 18.21; 1Co 4.19; 16.7; Hb 6.3; Tg 4.13-16). Decretar ou determinar são prerrogativas de quem tem autoridade, reis e imperadores, quem detém o poder (2Sm 15.15; Ed 6.13; Et 1.20; Ec 8.3,4),na oração nós somos os súditos e o Rei é Jesus, o único que pode decretar alguma coisa (Sl 62.11; Mt 28.18). Este ensino do poder das palavras deriva-se de uma outra heresia do movimento que é o ensino de que o homem é um semideus. O modelo de oração ensinado na Bíblia não decreta, nem determina, antes desubmete humildemente à vontade Soberana de Deus.

Neste artigo, eu procurei fazer um resumo, mas procurei deixar bem claro este movimento. Todavia, há alguns estudos que fiz durante este tempo, e caso você queira se aprofundar mais nesse assunto, clique em alguns desses links abaixo: O Movimento G12;

Em Cristo, Junior Araujo.

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