A Trindade: é possível que Deus seja, ao mesmo tempo, um e três?
- Junior Araujo
- 22 de jan. de 2016
- 3 min de leitura

Como os judeus e muçulmanos, os cristãos são monoteístas. Em outras palavras, eles acreditam na existência de precisamente um Deus único. Diferentemente de outros monoteístas, contudo, os cristãos também acreditam que, embora exista um Deus único, Ele é três pessoas — Pai, Filho e Espírito Santo. A crença de que um Deus único exista eternamente como três pessoas é conhecida como a doutrina da Trindade. E esta doutrina tem um importante papel na fé cristã. Na verdade, a doutrina da encarnação — que afirma que Jesus, como Deus, tornou-se um homem, e que Ele é, portanto, plenamente divino e plenamente humano — pressupõe essa crença. Esta última doutrina está no âmago da fé cristã.
Todavia, a doutrina da Trindade pode parecer uma contradição. Pode parecer impossível que Deus seja, ao mesmo tempo, um e três. Na verdade, o aparente absurdo desta doutrina levou a pelo menos dois erros graves, que exaltam uma das afirmações da doutrina, às custas da outra. Por um lado, alguns enfatizam a unicidade de Deus, às custas da sua triunidade, afirmando que existe apenas uma pessoa divina. Os que descrevem a Deus desta maneira usualmente dizem que a pessoa divina e única aparece sob diversos disfarces ou máscaras, às vezes como Pai, outras vezes como filho, e ainda outras vezes como Espírito. Uma vez que esta teoria diz que a pessoa divina e única modifica o seu modo de aparência, ela é chamada de modalismo. Por outro lado, alguns enfatizam a triunidade de Deus, às custas da sua unicidade, afirmando que cada uma das três pessoas divinas é um deus distinto. Esta teoria, que afirma que existem três deuses, é chamada de triteísmo.
Mas o modalismo e o triteísmo estão em conflito com a Bíblia, que apresenta Deus como sendo, ao mesmo tempo, um e três. Existe apenas um Deus (Dt 6:4), mas este Deus é três pessoas — Pai, Filho e Espírito (Mt 3:16-17; Mc 1:9-11; Lc 3:21-22). Sem dúvida, é difícil (ou talvez até mesmo impossível) que compreendamos como Deus é, ao mesmo tempo, um e três. Mas o fato de que algo seja de difícil compreensão para os humanos (ou até mesmo impossível) não faz disso uma contradição.
Uma contradição envolve dizer que alguma coisa é verdadeira e falsa ao mesmo tempo, e da mesma maneira. Assim, por exemplo, alguém que diz que Napoleão perdeu a batalha de Waterloo e que Napoleão não perdeu a batalha de Waterloo contradiz a si mesmo. É logicamente impossível que Napoleão tenha perdido a batalha e que também não a tenha perdido. A sua declaração é contraditória.
Se os cristãos dizem que (1a) existe precisamente um Deus, e que (1b) não é verdade que existe precisamente um Deus, estão contradizendo a si mesmos. Assim também, se dizem que (2a) existem três pessoas divinas, e que (2b) não é verdade que existem três pessoas divinas, também contradizem a si mesmos. Mas os cristãos não afirmam, ao mesmo tempo, 1a e 1b. Nem afirmam, ao mesmo tempo, 2a e 2b. Na verdade, afirmam 1a e 2a. E isto seria contraditório somente se la tiver 2b como consequência, ou se 2a tiver 1b como consequência.
Explicando a questão de outra maneira, quando os cristãos dizem que Deus é, ao mesmo tempo, um e três, não dizem que Ele é um, da mesma maneira como Ele é três. Assim, por exemplo, não dizem que (1a) existe precisamente um Deus, e que (1c) existem três deuses. Nem dizem que (2a) existem três pessoas divinas, e que (2c) existe somente uma pessoa divina.
Uma vez que 1c obrigue 1b, afirmar 1c e la seria contraditório. E uma vez que 2c obriga 2b, afirmar 2c e 2a também seria contraditório. Mas, na verdade, os cristãos negam tanto 1c como 2c. Ao afirmar 1a e 2a, os cristãos afirmam que, de uma maneira, Deus é um, e de outra, Ele é três. E quando fazem isto, não contradizem a si mesmos.
Então, os que pensam que a doutrina da Trindade é contraditória, interpretam equivocadamente a natureza de uma contradição ou a própria doutrina. Talvez eles confundam contradição com um mero paradoxo, fazendo com que a nossa incapacidade de compreender como uma doutrina é verdadeira obrigue que ela seja falsa. Mas a nossa incapacidade de entender como Deus é ao mesmo tempo um e três nos diz muito mais sobre nós mesmos do que a respeito de Deus. A Bíblia apresenta Deus como sendo, ao mesmo tempo, um e três; para nós, basta saber que Ele o é, independentemente de que entendamos como pode ser isto.
Bíblia Apologética de Estudo | Douglas K. Blount
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